11 março 2019

RECOMEÇO





Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância.
Por: Bernardo Soares In: Livro do Desassossego“ — Fernando Pessoa
Referência: https://citacoes.in/citacoes/1495297-fernando-pessoa-12-se-escrevo-o-que-sinto-e-porque-assim-diminuo/

            Assim como grande parte da literatura mundial, o pensamento acima expressa uma alma prepotente, fútil e grandemente egoísta. Muito distante do poeta de Israel, que escreveu o seguinte texto:

O Senhor é compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor.
Não acusa sem cessar nem fica ressentido para sempre;
não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui
conforme as nossas iniquidades.

            Este trecho do salmo 103, escrito pelo Rei Davi difere grandemente do pensamento da maioria da humanidade, pois não é fruto de uma alma que busca a si mesma, mas na realidade busca algo transcendental. A busca de Davi não era pela satisfação de desejos egoístas, vividos apenas no âmbito natural dos sentidos corrompidos pelo ego. O Rei de Israel ansiava pela eternidade com o Senhor, mas sabia que para alcançar isto, deveria passar por um recomeço e isto dependeria de um conserto com o próprio Deus de Israel.
            Buscar a satisfação para as dores e dúvidas dentro de nós mesmos é um ato irracional, assim como o texto de Fernando Pessoa. O poeta português viveu uma vida de boemia, alcoolismo, drogas e outras coisas egoístas que a sociedade burguesa de sua época oferecia. Tudo para a satisfação do ego, mas que na verdade enterra as pessoas na mais profunda depressão.
            Nos dias atuais, a essência continua a mesma, com o acréscimo de todo o mal que a modernidade pode trazer.
            Felizmente, a verdadeira satisfação que Davi buscava continua imutável, resistindo a todas as eras com suas modernidades. Mais de três mil anos se passaram e muitos ainda buscam o mesmo recomeço que Davi buscou e, graças a Deus, muitos se inspiram nas palavras do poeta de Israel e se voltam para o Senhor.
            Outros poetas de Israel compreenderam isto muito bem e escreveram poemas que transcendem qualquer cultura em qualquer época, como é o caso do Salmo 107:

Os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes águas.
Esses vêem as obras do Senhor, e as suas maravilhas no profundo.
Pois ele manda, e se levanta o vento tempestuoso que eleva as suas ondas.
Sobem aos céus; descem aos abismos, e a sua alma se derrete em angústias.
Andam e cambaleiam como ébrios, e perderam todo o tino.
Então clamam ao Senhor na sua angústia; e ele os livra das suas dificuldades.
Faz cessar a tormenta, e acalmam-se as suas ondas.
Então se alegram, porque se aquietaram; assim os leva ao seu porto desejado.
Louvem ao Senhor pela sua bondade, e pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens.

            A linguagem dos salmos é poética e cheia de simbolismo que refletem a realidade através de ângulos diversos.
            No caso do salmo 107, as águas ou o mar podem se referir à vida diária, cheia de buscas e perdas, luz e trevas, medo e bravatas. Muitos de nós consegue passar a vida em águas calmas talvez por não se aventurarem ao escuro e frio horizonte distante. Outros vivem em meio a tempestades pois acreditam que é o único caminho ao tal horizonte distante.
            O que o salmista nos aponta no salmo 107 é o caminho perfeito para a eternidade, mesmo passando por perdas, feridas e afogamentos.
            O segredo é o mesmo do salmo 103; Não nos trata conforme as nossas iniquidades. No salmo 107, esta verdade é dita da seguinte forma:  Então clamaram ao Senhor na sua angústia, e ele os livrou das suas dificuldades.
                Na minha vida, a tempestade esteve presente desde muito cedo e o álcool e drogas chegaram ainda no final da infância, antes dos 16 anos, como em muitas vidas pelo mundo afora.
            Vivi em meio às tempestades por mais de 15 anos, até que um dia clamei ao Senhor na minha angustia, e Ele me livrou de minas dificuldades.

            Antes de chegar a este dia, mergulhei fundo no meu mundinho interior, escuro e frio. Lá dentro encontrei Fernando Pessoa, Allen Ginsberg, Edgar Allan Poe, Franz Kafka e muitos outros que se debatiam com suas névoas escuras e densas e se afogavam em suas próprias águas geladas.
            Hoje percebo que estas tempestades fazem parte do caminho, mas nunca foram o Caminho.
            Mesmo após encontrar o Caminho e vencer as antigas tempestades, não estamos completamente livres de enfrentar novas tempestades, pois mesmo estando trilhando o Caminho certo, ainda vivemos no mar da vida como qualquer pessoa. A diferença é que agora, no Caminho, nossas intempéries tem um propósito maior do que nós mesmos:

Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo,
assim como eu não sou do mundo.
Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.
Não são do mundo, como eu do mundo não sou.
Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.
Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam
santificados na verdade.
E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que
pela tua palavra
hão de crer em mim;
João 17:14-20

            Não precisamos mais viver a febre do sentir, pois o que confessamos tem todo a sentido que conseguirmos expressar e toda a importância que conseguirmos atribuir. Não temos mais que viver o desassossego comum pela busca do eu e sim, vivermos a urgência de levar outros náufragos a ver o Caminho para o Porto Seguro:

Então se alegram, porque se aquietaram; assim os leva ao seu porto desejado.
Salmo 107:30



INTERCESSÃO

Não pretendo desmerecer o valor literário dos autores citados,
apenas me reservo a opinião de que a verdadeira busca pela paz não deve ser egoísta nem intimista, pois creio que somente em Deus há satisfação real.

ESPERO EM DEUS QUE O(A) AMADO(A) LEITOR(A) ENCONTRE O CAMINHO
E ANCORE NO PORTO SEGURO.



Escrever impulsionado pelo amor à Palavra de Deus é ter o privilégio de ser o primeiro a ler.
John Bever





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