27 dezembro 2016

O caranguejo, a tartaruga e as máscaras.

Tem alguém à porta




            Uma das maiores dificuldades que combato em minha vida é a repulsa por cobranças. Ao menor sinal de pressão, entro imediatamente numa espécie de defesa agressiva, da mesma forma que um caranguejo acuado.  Levanto as garras e procuro repelir qualquer pessoa que tente se aproximar, até mesmo o próprio Senhor, ou principalmente o Senhor, pois é sempre Ele quem se aproxima através de outras pessoas.
            Observando de perto e até mesmo de longe, na TV, Internet, púlpitos e “pedestais”, percebi que este é um combate muito mais comum do que parece.
            Há muita gente por aí que anda se esgueirando, numa eterna paz armada, prontos para mostrar as garras ou se esconder dentro do casco, feito uma tartaruga.
            Os extremos são a agressividade do caranguejo e a reclusão da tartaruga, mas também há os  que pertencem ao grupo mais comum, que andam normalmente e agem sempre como se nada estivesse acontecendo. Aprenderam a usar máscaras apropriadas para cada tipo de situação e conseguem se segurar até o momento em que estão finalmente seguros em seus habitats particulares, nos momentos de solidão. Nesta hora, explodem emocionalmente e cultivam suas raízes de amargura na escuridão dos cantinhos frios e úmidos de suas almas.
            Há dias em que fui caranguejo, em outros tartaruga e também há os dias piores, quando tinha a tendência de usar máscaras e acumular tudo para a hora de cultivar as raízes amargas. Se fôssemos criaturas simples, seríamos facilmente diagnosticados, mas a complexidade é um atributo cada vez maior em pessoas que sofrem de doenças emocionais.
            Faço parte da Igreja há mais de quinze anos, mas somente nos últimos tempos, comecei a ouvir a voz do Senhor e entrar no processo de cura.
            Assim como a maioria dos cristãos, entendia erroneamente alguns textos bíblicos, procurando aplicar na vida dos que não conhecem ao Senhor, sem perceber que a Palavra de Deus é dirigida principalmente para os que já estão no Caminho.
Nestes últimos tempos, tenho aprendido que devemos nos alimentar da Palavra como um fruto, semear em nossa vida, produzir mais frutos com suas próprias sementes e, só após termos nossas próprias sementes dadas por Deus, procurar semear na vida de outras pessoas.
            Dentre muitos textos que tentava aplicar na vida dos outros, há dois que quero destacar, pois têm me alimentado e estão sendo a chave para a cura das enfermidades e feridas da minha alma. São eles:

Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.

E

"Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve".

            Certamente há muitos outros textos que o Senhor vem trazendo durante o processo, mas na minha situação, estes dois estão sendo extremamente importantes.

            No primeiro texto, descobri a grandeza e perfeição da Graça do Senhor.
           Creio que, desde o meu primeiro dia no Caminho, quando me levantei e confessei publicamente que quero seguir ao Senhor Jesus, Ele começou a bater mansamente na porta das minhas emoções, mas confundi com as temidas cobranças da vida e me neguei a abrir.
           


Em alguns momentos agi como um caranguejo, repelindo as investidas amorosas do Senhor com garras agressivas, jogando de volta nas pessoas todas as mensagens que o Senhor usava para falar comigo.
            Quando vejo uma pessoa recém-chegada começar a pregar para todos feito uma metralhadora, me reconheço imediatamente e sei que ali há uma alma ferida onde o Senhor está começando o processo de cura e precisa da intervenção de outras pessoas que já estão num estágio mais avançado do tratamento. Eis aqui os Intercessores.


           
Em outros momentos, fui a tartaruga teimosa que se esconde e não responde mais a qualquer estímulo externo.
Por mais que o Senhor enviasse pessoas para me ensinar a conviver sadiamente, ao menor sinal de cobrança, me fechava e ignorava os apelos para sair, baixar a guarda, desentocar, etc.
Hoje sei que o problema não era a dificuldade em perdoar outras pessoas, mas na verdade era a dificuldade em me ver como aceitável e perdoável pelas pessoas e principalmente por Deus.
Observe os pregadores que falam do amor de Deus para qualquer pessoa, mas não conseguem ter uma atitude amorosa com nenhuma destas pessoas para quem prega. 
No fundo de suas defesas, a maioria das pessoas tem uma grande dificuldade em aceitar o amor incondicional de Jesus manifesto através da Graça e por isto, se tornam religiosas, cobrando dos outros e delas mesmas um padrão de santidade que nunca será alcançado pela justiça própria.
O apóstolo Paulo compreendeu isto e nos desenhou um mapa para sair do casco e viver em liberdade. Todo o entendimento necessário para esta liberdade está na Palavra de Deus e um bom lugar para se alimentar e entrar no processo de cura é compreender o pecado e a justiça conforme a explanação na Carta aos Romanos, Capítulos 7 e 8.
Não vou tentar entrar em detalhes sobre o texto, pois esta busca deve ser pessoal, mas vamos olhar somente para um dos principais pontos de referência do mapa de Paulo:

Pois, no íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros.
Miserável homem eu que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?
Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! De modo que, com a mente, eu próprio sou escravo da lei de Deus; mas, com a carne, da lei do pecado.

Este texto é uma das mais belas confissões de dependência da Graça de Deus que o apóstolo faz em todos os seus escritos. Miserável homem que sou.
Quando comecei a buscar a cura para meus problemas emocionais, descobri que estava andando nos meus próprios caminhos e tentando mostrar o caminho de Jesus para as outras pessoas. Era nada mais nada menos do que um cego tentando guiar outros cegos. Que miséria !!!
Graças a Deus que o Senhor é insistente, mas nossa mente também tem suas artimanhas para procurar se proteger contra a cura e, quando as táticas do caranguejo e da tartaruga começam a falhar, inconscientemente passamos a utilizar a tática mais destrutiva de todas;

A tática das máscaras:



           
            Nesta fase da fuga causada pelas doenças emocionais, somos o caranguejo e a tartaruga ao mesmo tempo, mas com tamanha sutileza que as pessoas não percebem que foram repelidas. As máscaras são tão sutis que mal as percebemos, mesmo olhando no espelho, pois para que esta tática funcione, temos que mentir primeiramente para nós mesmos e, após acreditar e incorporar as próprias mentiras, estamos prontos para mentir para o mundo e para Deus. Que miséria !!!
Agora veja o que o primeiro texto que o Senhor me ajudou a ouvir nos diz:

Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.

Por vários anos, tentei abri a porta com as garras do caranguejo, o casco da tartaruga e as máscaras sutis, mas o Senhor nunca parou de bater e, em algum momento que nem sei quando foi, abri a porta sem artimanhas ou defesas e pude ver a mesa posta à minha frente.
 O Senhor não quer apenas entrar e se sentar. Ele quer se tornar o anfitrião de direito. Abrir a porta para o Senhor não é como abrir para qualquer pessoa. Uma visita comum espera que sejamos hospitaleiros e sirvamos algo, ofereçamos um assento, etc. com o Senhor é diferente. Ele quer entrar para fazer morada permanente e se tornar anfitrião.
Nos costumes judaicos e da maioria dos povos orientais até os dias de hoje, dividir a mesa com alguém é um ato de grande importância. Revela grande consideração, afeição, perdão e irmandade. Compartilhar a mesa é compartilhar a própria vida e é isto que o Senhor diz no texto acima.
Cearei com ele e ele comigo é muito mais do que uma visita, é comunhão.
As enfermidades emocionais que buscam dominar a vida de milhares e milhares de cristãos em todo o mundo são principalmente tentativas das trevas de nos separar da luz.
O Diabo e seus seguidores batalham constantemente para nos afastar do amor de Deus revelado na Palavra, por isto o Senhor declarou:

Disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: "Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos.
E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará".

Observe que isto não foi dito à multidão e sim, aos que criam nEle. Não basta crer. É preciso permanecer firme na Palavra até que se torne Verdade em minha vida e então, virá a liberdade.

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.

O artifício do Diabo é nos fazer imaginar que a Escritura é útil para os outros e não para nós, por isto nos faz partir direto para a boa obra sem antes passar pelo aprendizado e vivência da Verdade. Quando não conseguimos enfiar nossa “verdade” goela abaixo das pessoas, nos sentimos frustrados e mergulhamos na religiosidade, passando a viver como caranguejo e tartaruga mascarados.

Se desarme, quebre o casco, tire as máscaras
 e abra a porta.

Isto parece impossível, mas o Senhor estará batendo incansavelmente, esperando nosso tempo certo para que Ele entre. Outra boa notícia é que o Senhor também nos ajudará no processo de nos despir das artimanhas e preparar para abrir a porta, conforme a declaração de Paulo aos Filipenses:

pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.

Esta afirmação não significa que abriremos a porta mesmo que não queiramos fazer isto, mas sim que só poderemos abrir com a ajuda do Senhor, pois não temos força para vencer os poderes espirituais das trevas sem a Luz de Deus.

O segundo texto que o Senhor está usando para me ajudar a manter esta comunhão e abrir a porta diariamente faz referência ao peso causado pelas doenças emocionais.

"Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve".



A prisão espiritual leva à religiosidade e a religiosidade faz com que o cristão tente levar o peso do mundo às costas, pois é menos doloroso do que olhar para as própria misérias.
O caranguejo, a tartaruga e as máscaras se fundem e dão a luz uma mula que, além de carregar um fardo desnecessário, tenta fazer parelha com o boi.



O Senhor quer retirar o fardo da auto justificação e nos dar a Graça.
Esta  graça é o fardo mais leve possível, pois é compartilhado com o Senhor e toda a Igreja, através da comunhão em amor e o jugo do Senhor é suave pois, pela Graça, Ele próprio nos transforma diariamente, de glória em glória, para que sejamos conforme Sua imagem e, desta forma, tornando o jugo cada vez mais suave.

A cura para as enfermidades da alma é sempre a mesma:

Abrir a porta e vir a Jesus


Parecem duas atitudes distintas, mas darão o mesmo resultado:

Comunhão


Não é verdade que o cálice da bênção que abençoamos é uma participação no sangue de Cristo, e que o pão que partimos é uma participação no corpo de Cristo? 

Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.



Intercessão:

Que cada filho de Deus, em qualquer lugar deste mundo, consiga discernir a batida do Senhor e abrir a porta, para que a comunhão seja restaurada e a liberdade alcançada.
Todo fardo de auto justificação seja substituído pela Graça e todo jugo restaurado à leveza do amor de Cristo.

Clamo ao Senhor da Seara que envie ceifeiros (intercessores) para trabalhar com amor e dedicação, todos os dias, em todo o tempo, até que venha o avivamento.


Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o
Reino do seu Filho amado,
em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.






Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.


Comentários