05 outubro 2018

Multiplicadores


Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.
Mateus 28:19-20


 Os evangelhos estão repletos de milagres e ensinamentos maravilhosos, mas o mais importante é que há nestes fatos, a potencialidade de unir milagres e ensinamentos. Um dos principais é o famoso milagre da multiplicação.
            No milagre da cura do cego Bartimeu, aprendemos a perseverar, crer e clamar.  Na transformação da água em vinho, aprendemos sobre a natureza da graça e do Reino de Deus, substituindo a adoração cerimonial pela celebração. Na caminhada sobre as águas, aprendemos que o Senhor é quem comanda tudo, até mesmo as forças da natureza, inclusive a lei da gravidade, além da preciosa lição de fé.
            Mas o que será que podemos aprender com o milagre da multiplicação?
            Digo que este é um dos principais milagres que traz grande ensinamento, pois está diretamente relacionado com a última recomendação deixada pelo Senhor:
  
            Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samária, e até os confins da terra.
Atos 1:8

            Esta mesma recomendação foi lembrada pelo Apostolo Paulo, quando estava instruindo seu discípulo Timóteo:

Pregue a palavra e insista em anunciá-la, seja no tempo certo ou não. Procure convencer, repreenda, anime e ensine com toda a paciência.
2 Timóteo 4:2

            Quando observamos atentamente o milagre realizado pelo Senhor, vemos que havia mais do que a intenção de alimentar as pessoas que estavam ali. Para isto, Jesus poderia ter utilizado outros recursos, pois sabemos que não há limites para o poder de Deus. O que chama a atenção é a maneira que o Senhor decidiu agir:

Algum tempo depois Jesus partiu para a outra margem do mar da Galiléia ( ou seja, do mar de Tiberíades ), e grande multidão continuava a segui-lo, porque vira os sinais miraculosos que ele tinha realizado nos doentes. Então Jesus subiu ao monte e sentou-se com os seus discípulos. Estava próxima a festa judaica da Páscoa.
Levantando os olhos e vendo uma grande multidão que se aproximava, Jesus disse a Filipe: "Onde compraremos pão para esse povo comer? " Fez essa pergunta apenas para pô-lo à prova, pois já tinha em mente o que ia fazer. Filipe lhe respondeu: "Duzentos denários não comprariam pão suficiente para que cada um recebesse um pedaço! " Outro discípulo, André, irmão de Simão Pedro, tomou a palavra: "Aqui está um rapaz com cinco pães de cevada e dois peixinhos, mas o que é isto para tanta gente? " Disse Jesus: "Mandem o povo assentar-se". Havia muita grama naquele lugar, e todos se assentaram. Eram cerca de cinco mil homens.
Então Jesus tomou os pães, deu graças e os repartiu entre os que estavam assentados, tanto quanto queriam; e fez o mesmo com os peixes. Depois que todos receberam o suficiente para comer, disse aos seus discípulos: "Ajuntem os pedaços que sobraram. Que nada seja desperdiçado". Então eles os ajuntaram e encheram doze cestos com os pedaços dos cinco pães de cevada deixados por aqueles que tinham comido.
Depois de ver o sinal miraculoso que Jesus tinha realizado, o povo começou a dizer: "Sem dúvida este é o Profeta que devia vir ao mundo".

            Não tenho prazer algum em criticar a atuação da maioria dos crentes dos nossos dias, mas infelizmente, não há como comentar a Palavra de Deus, sem analisar a situação e comparar com o que deveria estar acontecendo. Graças a Deus que sempre manterá um remanescente para exortar e levar pedrada. Uma das finalidades deste blog é convidar os crentes que se sentem na mesma situação a interceder em oração e atitudes, na busca constante por Deus, visando a santificação e o crescimento sadio da Igreja.
            A maioria das exortações que tenho acompanhado, nos sites de estudos, pregações e louvores, apresenta os problemas de forma superficial e buscam dar ênfase apenas no indivíduo. (talvez seja por verem estes indivíduos como consumidores). Creio que a Igreja é formada por indivíduos, mas o problema da apostasia e enfraquecimento é corporativo. Devemos procurar curar cada indivíduo em particular, mas também devemos atacar o problema como um todo. Se o problema fosse de natureza física, buscaríamos a cura física da parte afetada, mas se o problema é de natureza sobrenatural, então devemos buscar a cura de todo o corpo sobrenatural.
           
E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;  até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo;  para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro; antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
Efésios 4:11-15


            Como Igreja, somos um corpo cuja cabeça é o próprio Senhor. Desta forma, o problema consiste exatamente na ligação perfeita entre o corpo e a cabeça. Resumindo, o problema é de comunicação entre a cabeça, que envia os comandos e as partes do corpo que deveriam receber e executar estes comandos. É inútil tratar um dedo que está atrofiado por não conseguir receber o comando enviado pela cabeça, pois este comando depende que outras partes recebam e reenviem até chegar ao destinatário. Se uma destas partes não está funcionando perfeitamente, o comando é interrompido ou corrompido. Ou deixa de chegar ou chega adulterado.
            No milagre da multiplicação dos pães, podemos tirar uma importante lição de como realizar a cura corporativa que a Igreja tanto está necessitando, para cumprir o propósito nos últimos dias. Cremos que haverá um despertar e derramamento do Espírito Santo de forma mais acentuada, conforme for se aproximando o fim dos tempos. Certamente que este tempo já chegou e estamos vivenciando isto. Este despertamento não é da maneira que os “tele pastores” apregoam, mas é sério e real. Não devemos esperar a salvação de toda a humanidade, como alguns insistem, mas podemos perceber um grande aumento do interesse pelas coisas espirituais. Infelizmente, este crescimento não aponta somente para as coisas verdadeiras de Deus, mas o crescimento também é espantosamente grande no mundo Muçulmano e até em diversas seitas que se declaram satanistas, mesmo que a maior parte seja apenas gente incrédula buscando atenção. Isto nos mostra que o “avivamento” não é nem um pouco parecido com o que está sendo vendido na mídia. Isto não passa de mercadoria adaptada ao gosto de um mercado fortemente manipulado.
            A cura que o Senhor nos aponta, através do milagre da multiplicação dos pães e peixes, é exatamente a restauração da comunicação correta entre todas as partes do corpo e a cabeça. Cada parte cumprindo sua função, restaurando o fluxo e fortalecendo o todo.
            Vamos dar uma olhada nos fatos e deixar o Espírito falar:

            O contexto começa com o Senhor realizando milagres e curando o povo. Estava chegando a Páscoa e o Senhor já iniciava a caminhada para o calvário.
            Era a hora de sair da Galileia e caminhar até Jerusalém. Nesta trajetória, o Cordeiro de Deus seria examinado e provado de todas as formas possíveis, para se averiguar se realmente era o cordeiro perfeito, sem manchas, apto para o sacrifício.
            Aqui vamos ao primeiro ponto:
            A multidão estava seguindo ao Senhor Jesus, pois Ele havia realizado maravilhas e curado os enfermos. Na Igreja atual, os homens se esforçam ao máximo para serem seguidos. Vemos verdadeiros rituais de curas e milagres sendo realizados sempre com a presença de câmeras e microfones. Você já ouviu falar que o pastor fulano de tal estava passeando com alguns amigos e então se depararam com algumas pessoas necessitadas e então expulsaram os demônios e curaram os doentes?   Pois é. Infelizmente nunca se ouviu algo parecido e dificilmente se ouvirá. O interesse, hoje em dia, não está nas pessoas necessitadas, mas está em um tipo de poder ilusório e passageiro, a fama e riqueza material.
            No texto de João, vemos Jesus acompanhado dos Apóstolos e discípulos, mas a multidão seguia somente ao Senhor, pois sabiam quem é que realizava as maravilhas.
            O segundo ponto:
            Jesus subiu ao monte a sentou-se com os discípulos. Subir o monte demonstra desejo de se aproximar do Pai de forma mais contemplativa e assentar-se é uma atitude própria dos mestres, quando se preparavam para ensinar.
            Jesus atraia as pessoas para uma posição de contemplação e as preparava para ouvir o que Deus tinha para ensinar a elas. Fez isto com os Apóstolos, que sempre ficavam mais próximos, os discípulos, que procuravam se aproximar e a multidão, que se aglomerava.
            Nossa atitude com relação ao Senhor define o que seremos. Apóstolos são os que almejam partilhar cada detalhe e ir após o Mestre, compartilhando o que recebeu. Discípulos são os que querem captar cada detalhe para ser igual ao Mestre e a multidão que se aglomera são os que estão mais interessados nas maravilhas e só querem receber e reter, não deixando fluir e morrendo quando não conseguem receber exatamente o que querem.
            O terceiro ponto:
            O Senhor levanta os olhos para ver a multidão e então inicia o diálogo com Filipe.
            Certamente que havia muito alvoroço em volta, mas o Senhor estava assentado e de cabeça baixa, o que indica que estava orando, totalmente tranquilo. A pergunta do Senhor sobre como alimentar á multidão foi apenas para chamar a atenção ao fato de que este não era um problema, mas um meio de trazer preciosos ensinamentos.
            É notório o fato de que, sem alimento, a multidão se dispersaria. Isto reflete o que tem acontecido com as Igrejas atuais. Uma multidão se aglomera diariamente e vai embora por falta de alimento. Os “milagres” não são suficientes para prender a atenção das pessoas, pois a grande maioria está buscando apenas os sinais para resolver problemas imediatos. As Igrejas que oferecem “milagres” como um produto de consumo, estilo fastfood, atraem multidões em suas filas de caixa rápido e não se importam com a satisfação do cliente, pois o marketing garante que há muita gente esperando para entrar na fila.
            As respostas dos Apóstolos demonstram que não sabiam o que fazer e certamente haveria tumulto e confusão, pois nem mesmo eles tinham alimento sequer para um pequeno grupo.
            Neste momento, começa a ação do Senhor para trazer a cura para a situação. Jesus recebe os pequenos esforços de seus seguidores e apresenta ao Pai, dando graças, e então o milagre acontece.
            Os pães e peixes arrecadados pelos esforços humanos jamais seriam suficientes para alimentar sequer três pessoas, mas quando este pequeno esforço é apresentado ao Senhor, a multiplicação faz com que haja mais do que o suficiente para satisfazer os presentes naquele momento e os que viriam depois.
            Aqui vamos ao quarto ponto:
            Os discípulos tinham consciência de que deveriam alimentar a multidão, mas reconheceram que não tinham os recursos nem sabiam como proceder.
            Quando entregaram o problema nas mãos do Senhor, se humilharam, reconhecendo sua incapacidade e confiando na solução que Jesus traria. Infelizmente, os “líderes” atuais não conseguem ter a mesma atitude. A maioria sempre faz as coisas da maneira que bem entende, outros oram e depois fazem da maneira que bem entendem e outros ainda, empurrar o problema e vão avançando no escuro, rumo ao abismo. Graças a Deus que ainda mantém um remanescente pronto para se humilhar e fazer a vontade do Pai.
            Jesus apresentou o problema ao Pai, como intercessor, e imediatamente deu inicio à solução. Mandou que os discípulos organizassem as pessoas em grupos suficientes para que pudessem servir a todos sem tumulto.
            Eis aqui um grande ensinamento sobre a tarefa da Igreja. Reunir a multidão em grupos administráveis e então entregar o alimento multiplicado pelo Senhor. Prestemos atenção ao fato de que o Senhor multiplicou os pães e os peixes e não fez surgirem novos alimentos diversificados, adequados à dieta de cada grupo.
            Esta mesma narrativa é apresentada nos outros evangelhos, trazendo detalhes que enriquecem mais ainda nosso aprendizado:
    
Jesus, porém, lhes disse: Não precisam ir embora; dai-lhes vós de comer.
Mateus 14:16
      
     Mateus revela que o Senhor respondeu que eram os discípulos que deveriam alimentar à multidão e não apenas ficar esperando que Ele fizesse tudo sozinho. Os fatos seguintes demonstraram que isto seria possível, se confiassem no Senhor para fornecer o alimento e dar a direção de como proceder.

Então lhes ordenou que a todos fizessem reclinar-se, em grupos, sobre a relva verde.
E reclinaram-se em grupos de cem e de cinquenta.
E tomando os cinco pães e os dois peixes, e erguendo os olhos ao céu, os abençoou; partiu os pães e os entregava a seus discípulos para lhos servirem; também repartiu os dois peixes por todos.
E todos comeram e se fartaram.
Marcos 6:39-42

O relato de Marcos acrescenta que os grupos eram de cinquenta e cem, demonstrando a organização. Se haviam milhares de pessoas a serem alimentadas e os grupos eram relativamente pequenos, seria necessário o envolvimento de maior quantidade de discípulos para que todos pudessem receber sua porção.
Parece estranho, mas o texto mostra o Senhor dando graças e entregando as porções para que fossem servidas. Vemos assim que cada pão e peixe foi abençoado pelo Senhor e entregue aos discípulos para que estes distribuíssem.

Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
 João 15:4-5

E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.
Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.
1 Corintios 2:1-2

Após todos comerem e se saciarem, os discípulos recolheram 12 cestos, demonstrando a suficiência de Cristo e da Palavra e a abundancia da graça.

Vamos orar em intercessão a agir conforme o que Deus nos dá:

Clamamos pela restauração da comunicação correta entre o corpo e a cabeça, para que a Igreja possa cumprir com seu propósito, apresentando ao mundo a Palavra de poder que Salva, Cura e Liberta, levando o homem de volta à presença do Pai.
Que a Palavra seja entregue às multidões da maneira que Deus enviou, sem alterações, adaptações ou adulterações. Se recebemos a Palavra em nós, somos a encarnação da Palavra e cremos que somente a Palavra pode libertar e dar Paz.
       Vamos interceder para que a Igreja volte a realizar seu propósito, que é ser multiplicadora da Palavra enviada do Céu.
      
Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus? Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.

           


Marcelo Tristão de Souza
Ministério Apostólico Koinonia em Guamaré/RN

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